quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Com licença poética

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade da alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.


adeliaprado

adélia prado Adélia Prado, mineira de Divinópolis, nasceu em 13 de dezembro de 1935. Formada em Filosofia em 1973, teve seus poemas apreciados por Carlos Drummond de Andrade, que sugeriu à Editora Amago, dois anos depois, a publicação do primeiro livro de Adélia: Bagagem. As primeiras frases do Poema de Sete Faces, de Drummond, serviram de inspiração à Adélia na criação do poema Com Licença Poética.

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